Para muitos cristãos isso é uma desconsideração desrespeitosa para com o Messias de Israel, Jesus, este si, a maior referência humana de todos os tempos. Para outros, isso não passa de vã idolatria para com alguém que já está ultrapassado, pois seus ensinamentos caducaram e não valem mais. Mas o que nos dizem a esse respeito as Sagradas Escrituras Neo-Testamentárias? Moisés de fato passou e não significa mais nada? E os seus ensinamentos ou as suas leis invalidaram-se?
Para a surpresa de muitos, nada mais, nada menos do que o Livro de Apocalipse, o Livro da Revelação dos acontecimentos dos últimos dias, ou do desfecho da história da humanidade, é que nos aviva a memória para a importância de Moisés, colocando-o lado a lado com Jesus. O que? Deve haver algum engano...Vejamos, pois:
"Vi no céu ainda outro sinal, grande e admirável: sete anjos, que tinham as sete últimas pragas; porque nelas é consumada a ira de Deus.
E vi como que um mar de vidro misturado com fogo; e os que tinham vencido a besta e a sua imagem e o número do seu nome estavam em pé junto ao mar de vidro, e tinham harpas de Deus.
E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as tuas obras, ó Senhor Deus Todo-Poderoso; justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei dos séculos.
Quem não te temerá, Senhor, e não glorificará o teu nome? Pois só tu és santo; por isso todas as nações virão e se prostrarão diante de ti, porque os teus juízos são manifestos.
Depois disto olhei, e abriu-se o santuário do tabernáculo do testemunho no céu; e saíram do santuário os sete anjos que tinham as sete pragas, vestidos de linho puro e resplandecente, e cingidos, à altura do peito com cintos de ouro." [Ap 15:1-6]
O apóstolo João estava no meio da sua gloriosa visão dos últimos acontecimentos, relatando a vitória triunfal do Messias de Israel, Jesus sobre os seus últimos inimigos. E, na voz dos que venceram a besta, João nos relata uma música especial: o Cântico de Moisés e o Cântico do Cordeiro. O que Moisés está fazendo aqui? Se ele não tem mais nenhuma relevância como referência humana, porque foi aqui citado e ao lado do Cordeiro, Jesus, sem nenhuma restrição? Precisamos refletir sobre isso. O primeiro aspecto a considerar diz respeito à posição de autoridade de Moisés com relação à revelação de Deus. Foi Moisés quem entregou à humanidade, através do Povo de Israel, a orientação básica acerca do modo de vida projetado por D'us para o homem. A Lei de Moisés ou Torá - como é chamada respeitosamente pelos judeus - no hebraico significa exatamente "ensinamento", deixando-nos evidente que as suas palavras representavam a instrução ou manual de vida, oriundos do próprio Deus, para o povo que Ele separou para si para o servir e ser um exemplo na Terra.
Isso significa que, em todos os tempos, os ensinamentos de Moisés são a base do conhecimento de Deus e da Sua vontade. Tanto que, ao vencerem o mestre do Diabo, a Besta, com todas as suas mentiras e instruções enganosas, os crentes entoarão o Cântico de Moisés juntamente ao Cântico do Cordeiro. Os cantos na Bíblia sempre falam de vitória e de louvor e adoração a Deus, o invencível. E aqui não é diferente: A vitória de Moisés é celebrada, junto com a vitória do Cordeiro. O que quer dizer que os ensinamentos de Moisés venceram, juntamente com os ensinamentos de Jesus. E isso porque Jesus, na verdade, veio dar cumprimento às profecias mosaicas. Ele mesmo ressaltou:
"Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, de modo nenhum passará da lei um só i ou um só til, até que tudo seja cumprido" [Mt 5:17,18].
Diante disso, o que vemos é que há uma só música a entoar: a vitória de D'us sobre a Terra. E a primeira estrofe cabe a Moisés, que deu início ao Plano Divino. Mas a Segunda estrofe cabe ao Cordeiro, que o efetivou e ainda vai efetivando, através dos seus redimidos, quer judeus, quer gentios, que entoarão, juntos, o refrão: "Grandes e Admiráveis são as tuas obras, ó Senhor!" Porque guardar os mandamentos do Eterno Deus, dados por Moisés e guardar a fé em Jesus se constituem no triunfo maior do Povo de D'us, como bem afirmou João, no mesmo livro de Apocalipse, um capítulo antes: "Aqui está a perseverança dos santos, daqueles que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus" [Ap 14:12].
O outro aspecto a considerar diz respeito a necessária unidade final entre o Povo de Deus Israel e o Povo de Deus Igreja. Inegavelmente e justificadamente, Moisés é o referencial do povo judeu e o seu símbolo, em todos os tempos, diante de toda a humanidade. Falar de Moisés é falar do judaísmo e de uma exemplar história de libertação, milagres, poder e presença de Deus. Moisés é como o elo entre o Povo de Israel e Deus, pois Ele foi o canal Divino para liderar os israelitas e passar para eles as instruções Divinas que lhes garantiriam a vida e a sobrevivência até os nossos dias. Por outro lado, a verdadeira Igreja, em sua maioria formada por gentios de todas as nações da Terra, tem como referência o Messias de Israel, Jesus, profetizado por Moisés, que instruiu o Povo de Israel a esperá-lo e segui-lo. E a Igreja verdadeira tem provado, de fato, a libertação, os milagres, o poder e a presença de D'us que Jesus traz.
No entanto, por longos anos esta Igreja tem caminhado separada de Israel. Mas, no fim, terá que se unir a Ele. Porque ambos são Povo de Deus. E, inevitavelmente, terão que dar as mãos, no futuro, pois Jesus não separou os povos, mas de ambos os povos (Judeus e gentios) fez um (Efésios 2:14). E João nos ressalta isso, revelando-nos que cantaremos juntos e em louvor ao mesmo Deus, o Senhor Todo Poderoso. Sim. Judeus e Gentios, diferenciados, mas unificados. Como um só, porém não misturados. Mantendo sua identidade, mas juntos. Percebemos que esta unidade é tão significativa que, após este cântico profético, bem dividido e bem unificado, o Tabernáculo celestial é aberto (Apocalipse 15:5,6) e começa o juízo de Deus sobre a Terra, através das sete pragas que darão o desfecho final a nossa história e nos conduzirão, por fim, ao Novo Céu e à Nova Terra e à Nova Jerusalém, nossa pátria eterna.
É muito interessante observar aqui alguns aspectos:
1) - Somente após os santos entoarem, juntamente, em unidade, o Cântico de Moisés e o Cântico do Cordeiro, é que o Tabernáculo, lugar onde habita a glória de Deus, é revelado e o juízo Divino desce sobre a terra através das sete pragas. Isso quer nos dizer que, sem esta verdadeira, real e profunda unidade entre Israel e Igreja (Povo judeu e crentes gentios) a ansiada glória celestial não se manifestará.
2) - É exatamente Moisés a referência bíblica acerca do tabernáculo e das pragas. Sim, refrescando a nossa memória, não foi Moisés quem construiu o Tabernáculo terreno, uma cópia do celestial, e de acordo com as orientações detalhadas do próprio Deus? E não foi ele, também, o instrumento Divino para trazer as pragas sobre o Egito, como juízo de Deus contra o opressor e "carcereiro" de Seu Povo? Libertação, redenção da escravidão e vislumbre da glória e presença de Deus eram as maiores necessidades do Povo de Israel daquela época. Mas também eram a sombra da redenção final, ou seja, era o reflexo da redenção completa e da glória de Deus definitiva.
Talvez tudo isso pareça muito complexo, mas de fato não é. Porque tudo se resume na Soberania de D'us que prevalece, mesmo que o homem falhe, mesmo que o Seu Povo não lhe seja fiel, mesmo que a história pareça tomar outro rumo. Ele está no controle! Ele determinou! E assim será! Portanto, o que Moisés representou para o Eterno, continua representando. O que Ele planejou com ele e com os seus ensinamentos, continua valendo. O que foi projetado para a história da redenção, será cumprido, e cabalmente. A Igreja gentílica ligada a suas raízes judaicas subsistirá, mesmo que seja pela ressurreição.
E a unidade do Povo de Deus na Terra, quer judeus, quer gentios, será real. Porque Deus é o Senhor. Ele o decidiu. Ele o fará! E "agindo Deus, quem impedirá?"(Is 43:13) Resta-nos, pois, atentar bem para a palavra profética. Porque se ela disse que os vencedores da besta cantarão o Cântico de Moisés e o Cântico do Cordeiro, isso acontecerá. E nós podemos apressar isso, aprendendo a música desde já!