Muito tempo se passou desde que o Messias de Israel Yeshua (Jesus) começou o seu Ministério. Tanto já se falou sobre Ele e sobre o que Ele falou. Mas será que ainda é "moderna" e atual a sua pregação básica? E qual é ela? O amor, a paz, a harmonia nos relacionamentos, a construção de grandes templos, os retiros espirituais, batalha espiritual, a prosperidade, a música "gospel"? Só as Escrituras podem nos dizer:
"Desde então começou Jesus a pregar, e a dizer: arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus."[Mt 4:17].
O que vemos aqui é que Jesus não fez rodeios ao começar a pregar. Ele afirmou direta e claramente: ARREPENDEI-VOS! Porque o Reino dos céus é chegado e, para alcançá-lo, o arrependimento é indispensável. Mas será que nós sabemos o que é arrependimento? O Dicionário Aurélio assim define arrependimento: "Insatisfação causada por violação de lei ou de conduta moral, e que resulta na livre aceitação do castigo e na disposição de evitar futuras violações". Aqui arrependimento nos fala de reconhecer a transgressão de uma lei ou norma, assumir a necessidade de pagar por isso e decidir cuidar para não repetir o mesmo delito. E é esse todo o conceito Bíblico, que não apenas foi pregado por Jesus, mas se consistia em toda a base da fé judaica. Por isso todos os sacrifícios de animais e o conceito de que sem derramamento de sangue não há remissão de pecados.
A palavra no hebraico que equivale a arrependimento é "Teshuvá", cuja melhor tradução é resposta, uma resposta ao chamado de D'us. Mas Teshuvá também é entendida como retorno, volta a Deus e arrependimento, mudança de atitude. A expressão máxima do arrependimento dentro do judaísmo está nos chamados Dias de Reverência, que vão do dia da Festa das Trombetas ou Hosh Hashaná, a virada do ano Judaico, até o dia do Perdão - Yom Kipur. Durante dez dias entra-se num período de instrospecção e auto-avaliação, para reconhecer erros e pecados e corrigi-los, antes mesmo de se apresentar diante de Deus. No Dia de Hosh Hashaná, o toque do Shofar (Trombeta feita de chifre de carneiro) é uma Chamada Divina para despertar o Seu Povo e levá-lo a um processo de Teshuvá. E é assim que o judeu se prepara, revendo os seus atos e acertando o que é necessário, não só consigo mesmo, mas com o seu próximo, consciente de que, se pecou contra alguém, não adianta pedir perdão para Deus, mas deve procurar o ofendido e acertar o que é preciso.
Mas a Teshuvá não é só para este momento. Aliás, existem hoje grupos judaicos trabalhando pelo retorno dos próprios judeus a Deus e isso sobre a bandeira direta do arrependimento e da volta à Torá, aos mandamentos Divinos e às práticas diárias das orações, dos estudos bíblicos e das boas ações. E é muito comum reconhecer num "baal teshuvá", literalmente "mestre do arrependimento", nome dado ao judeu que retorna à fé bíblica, uma dedicação zelosa e exemplar. Porque ele conhece bem o caminho longe da presença de Deus e das práticas bíblicas e, quando volta, volta pra valer!
O Talmud, principal literatura judaica depois da Bíblia, declara que quando as pessoas se arrependem sinceramente pelos erros e mudam para melhor, os enganos que cometeram tornam-se verdadeiros méritos.
Os sábios judeus afirmam que apenas quando deixamos de aprender com nossas falhas e, racionalizando e justificando, insistimos obstinadamente que estamos certos, nossos erros permanecem como defeitos. Temos, portanto, a capacidade para tornar a própria vida uma experiência formidável e enriquecedora, reconhecendo os nossos limites e recebendo, consequentemente, a capacitação Divina para sermos pessoas melhores.
É por esta razão que Jesus deu tanta ênfase ao arrependimento. Porque, enquanto nos consideramos certinhos, muito bons, inculpáveis, sem pecado, a nossa busca de Deus tende a ser superficial e a nossa dedicação, um tanto quanto pequena. Parece que a auto-justificação nos faz mais "deuses" do que o próprio Deus, enquanto que o arrependimento nos faz mais monoteístas e mais adoradores do Eterno.
O fato é que sem arrependimento não se pode desfrutar da redenção. Porque, se considero que não tenho de que me arrepender, então não preciso de perdão, nem de remissão. Logo, Jesus morreu em vão e a sua mensagem é anulada. E o que está escrito acerca da missão dos seguidores de Jesus, é que eles devem pregar "o arrependimento para remissão dos pecados, a todas as nações, começando por Jerusalém".[Lc. 24:47]
É triste perceber que, nos nossos dias, as pregações sobre salvação tenham se tornado tão banalizadas. Fala-se do evangelho como se faz uma propaganda de Coca-Cola, deixando transparecer que não é necessário nenhum pré-requisito, mas só crer e entrar na "moda evangélica". Parece que ficou "chique" ser "Gospel" e isso não tem nada a ver com a "caretice" do papo de pecado, mandamentos, arrependimento.
Mas sem arrependimento não se pode desfrutar do Reino de Deus. E Jesus nos deixou isso bem claro, ao dizer: "Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao ARREPENDIMENTO".[Mt. 9:13].
Assim, percebemos que o arrependimento é o oposto do orgulho e da auto-justificação. É o reconhecimento aberto e transparente do pecado e a disposição de não repeti-lo. E só o que se reconhece pecador é capaz de alcançar o arrependimento e de reconhecer por que Jesus precisava morrer por ele e como esta redenção é necessária. Isso faz de Jesus mais do que um homem exemplar a ser seguido. Ele é a própria redenção prometida por Deus, antes representada pelos sacrifícios de animais, mas agora encontrando uma forma perfeita, porque Ele não só derramou seu sangue, mas venceu a morte pela ressurreição, tornando a obra de redenção totalmente completa.
O Livro de Hebreus nos fala a esse respeito de maneira bem clara: "Porque, se a aspersão do sangue de bodes e de touros, e das cinzas duma novilha santifica os contaminados, quanto à purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará das obras mortas a vossa consciência, para servirdes ao Deus vivo?" [Hb 9:13 e 14]
E assim é que fica evidente a necessidade de remissão, a remissão de um pecado reconhecido e assumido, o que nada mais é do que o arrependimento. E isso não é uma só vez, valendo por todas. Ou seja, não se pode se arrepender uma vez e depois considerar que não é necessário mais arrependimento, se de novo se comete um pecado, seja ou não o mesmo pecado. Porque o arrependimento é condição para o perdão, de forma que, se não houver arrependimento, o perdão fica retido, conforme nos instrui Jesus, desta vez em Lucas 17: "Olhai por vós mesmos. E, se teu irmão pecar contra ti, repreende-o e, se ele se ARREPENDER, perdoa-lhe". (Grifo nosso).
O tema do arrependimento é muito vasto. E aconselhamos os interessados a estudarem, com detalhe, todas as referências bíblicas sobre o arrependimento e o quanto elas nos falam e instruem. O que queremos agora, no entanto, é fazer soar um toque de alerta, assim como o Shofar (Trombeta) de Deus mesmo e lembrar:
"O Reino de Deus é chegado. E o ingresso de entrada é o arrependimento!"
Precisamos, pois, refletir: temos sido treinados no arrependimento? Somos capazes de abrir o nosso coração ao Eterno e confessar, sinceramente, os nossos pecados, dando a eles nomes específicos, em vez de generalizar? Reconhecemos a superficialidade deste evangelho "modista" que anda sendo pregado por aí? E temos a coragem de nos aprofundar, parando de considerar pecado só o que moralmente é considerado pecado pela "hipócrita" sociedade, indo além da bebida, do sexo, do roubo, da morte e reconhecendo os pecados do coração, tais como a inveja, a presunção, o egocentrismo, o ciúme, a ambição pelo poder (mesmo dentro da Igreja), a competição?
As Escrituras nos atestam que: "ENGANOSO é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?" (Jr 17:9) Portanto, será que nenhum de nós precisa ouvir o chamado de arrependimento, quer sejamos incrédulos, quer crentes? Conta-se da história de um Rabino muito dedicado a Deus e às Escrituras, cheio de bondade e paciência com o seus discípulos, a ponto de muitos deles o considerarem um verdadeiro "Tsadik" (Justo) e um Grande Sábio. Um dia o Rabino foi interrogado acerca de sua sabedoria, de como ela o fazia mais perto de Deus do que os outros e se Ele não se sentia totalmente pleno. E a resposta dele foi: "A sabedoria e a justiça não encurtam o caminho para o Eterno, mas o prolongam. " Assustados, os seus discípulos indagaram: Como pode ser, mestre?" Com todos os seus conhecimentos e bondade, o sábio e o justo não podem entender mais o Universo e a própria existência e essência de Deus?" E o Sábio, com a sua calma e simplicidade costumeiras, respondeu: "Quanto mais se sabe do Eterno e da Sua Criação, mais se descobre a Sua grandeza e a nossa pequenez e dependência Dele. E quanto mais se santifica, mais se descobre falhas, aquelas bem pequenas, que as grandes ofuscavam. Assim, ser sábio e ser justo não é ser o maior, nem estar mais perto de Deus do que os outros. É, antes, reconhecer a verdadeira natureza humana e o quanto precisamos, todos, da misericórdia de Deus".
Que se torne nossa, pois, agora, a oração de Davi:
"Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno." (Sl 139:23 e 24)